Habitação jovem em Portugal
Sair de casa dos pais é o objetivo de muitos jovens. Sair de casa dos pais é um marco, uma transição, uma conquista da independência. Sair de casa dos pais é cada vez mais difícil.
Cada um destes ícones representa uma pessoa. Ao todo, vemos 51 jovens portugueses, dos quais apenas 15, os representados a branco, deixaram o domicílio parental e atingiram o tão desejado marco. 15 em 51. Menos de metade dos jovens que responderam a um inquérito desenvolvido no âmbito da habitação jovem em Portugal.
A saída de casa dos pais deu-se, em média, entre os 21 e os 22 anos. No entanto, a saída não foi tão precoce para todos. Houve quem respondesse que apenas abandonou a casa de família aos 27 anos, o que vem personalizar a tendência generalizada de abandono tardio do domicílio familiar que se tem vindo a registar no país.
Apesar de constituir uma amostra reduzida, os resultados do inquérito são um claro retrato das dificuldades que os jovens portugueses têm sentido cada vez mais no acesso à habitação, tema que está na ordem do dia.
Este número não tem parado de aumentar nos últimos anos. Este número representa a idade média de saída dos jovens portugueses de casa dos pais em 2021. Este número é o mais elevado a nível europeu no ano indicado.
Portugal tornou-se o país em que os jovens abandonam mais tarde o domicílio parental na Europa. A média de 33,6 anos em 2021 deixa o país com 7,1 anos de diferença face à média dos Estados-membros da União Europeia e com mais 14,6 anos do que a Suécia, local onde se sai mais cedo (19).
Os números apresentados são o resultado de um estudo do Eurostat, cujo foco é a idade dos jovens que abandonaram a família parental em 2021. A pesquisa reúne dados dos países da União Europeia e da Sérvia.
Nos países do norte e do oeste europeu, os jovens deixaram a casa dos pais mais cedo, entre o início e meados dos vinte anos. É o caso da Suécia, como já referido, mas também da Finlândia (21,2), da Dinamarca (21,3) e da Estónia (22,7).
Por outro lado, as regiões do sul e do leste correspondem às que o domicílio parental fica menos preenchido mais tarde, isto é, no final dos vinte e no início dos trinta anos. É neste grupo que Portugal se insere, a par da Croácia (33,3), da Grécia (30,9) e da Bulgária (30,3).
Homens deixam domicílio parental mais tarde do que mulheres
Nos países da União Europeia, os homens demoram quase mais dois anos a sair de casa dos pais do que as mulheres em 2021. Portugal não é exceção.
O estudo levado a cabo pelo Eurostat sobre a saída dos jovens de casa dos pais registou, para além da geografia, diferenças a nível de género. A média europeia mostra que os homens deixaram o domicílio parental aos 27,4 anos, enquanto as mulheres o fizeram com 25,5.
Em Portugal, a realidade é ainda mais tardia. Os jovens do sexo masculino deixaram a casa dos pais com 34,4 anos, enquanto as mulheres previamente aos 32,7 anos.
Portugal integra assim a lista de 11 países nos quais os homens saíram após os 30 anos, ao lado da Croácia, Eslováquia, Bulgária, Grécia, Eslovénia, Itália, Malta, Espanha, Roménia e Polónia. O país é, no entanto, um dos dois únicos em que as mulheres também saíram depois dos 30. A par de Portugal, está a Croácia.
Ainda assim, a diferença mais acentuada, no que ao género diz respeito, não foi registada em Portugal. Esse lugar foi ocupado pela Roménia, em que a diferença entre homens e mulheres atingiu os 4,7 anos. Neste país, os jovens do sexo masculino deixaram o domicílio parental aos 30,3 anos e as mulheres aos 25,6.
Jovens portugueses nunca saíram de casa tão tarde
Portugal nunca tinha assistido a um abandono da casa dos pais por parte dos jovens numa idade tão tardia como em 2021. A diferença é de mais de três anos em comparação com o ano anterior.
Entre 2012 e 2018, a diferença da idade dos jovens que saíam de casa de ano para ano andava num sobe e desce pouco significativo. Ora subia duas décimas, ora descia e voltava ao número inicial, para logo no ano seguinte subir mais uma décima, como mostra o gráfico.
Contudo, desde 2020, esta tendência quebrou-se. Nesse ano, particularmente marcado pela pandemia da Covid-19, a idade dos jovens que deixaram o domicílio familiar subiu para os 30 anos.
Num espaço de apenas um ano, a média subiu para os 33,6 anos. Assim, em 2021, os jovens portugueses abandonam o agregado familiar mais tarde desde que há registo por parte do Eurostat.
Mas porquê o adiar da emancipação?
1
Precariedade laboral
2
Salários baixos
3
Rendas elevadas
No fim das contas, estas três razões acabam por se interligar e impedir que os jovens portugueses consigam a emancipação tão cedo quanto outros países.
Ao olharmos para o questionário inicial, é possível identificar que os salários são o reflexo da precariedade laboral em Portugal. 42,5% dos inquiridos têm ordenados entre os 600€ e os 900€, valores que não acompanham o aumento generalizado dos preços.
No Porto, por exemplo, essa interligação faz-se sentir de forma acentuada. De acordo com dados da Century 21/Confidencial Imobiliário, a tendência no mercado imobiliário da região é de agravamento, devido às sucessivas subidas das taxas de juro. A longo prazo, este fenómeno pode fazer com que a compra de casa deixe de ser acessível no Porto.
Contudo, neste momento, adquirir habitação na região, mesmo com os maiores custos envolvidos, continua a ser possível por uma única razão: o arrendamento mantém-se acima das capacidades das famílias.
Contas feitas, de acordo com os dados apresentados, a taxa de esforço para comprar uma habitação de 90m2 na região do Porto é de 50%, enquanto a de arrendamento supera-a, ao atingir os 53%.
Recorde-se de que a taxa de esforço é a relação entre o rendimento mensal líquido do agregado familiar e as despesas.
Ainda assim, a Century21/Confidencial Imobiliário afirma que, apesar de ser mais vantajosa, a compra está a perder terreno face à compra no Porto.
Do Porto para Lisboa, o cenário altera-se significativamente. Se na Cidade Invicta comprar é mais acessível do que arrendar, na capital a tendência inverte-se.
Apesar de nas duas modalidades os preços praticados ultrapassarem o rendimento mensal dos habitantes, comprar casa em Lisboa é 14% mais caro do que arrendar, deixando de ser a opção mais vantajosa.
Ainda assim, não se pense que arrendar na capital é um mar de rosas. Não o é, já que os preços estão a aumentar devido à elevada procura por um lado e à escassez de oferta por outro. O agravamento é então generalizado.
Do Porto para Lisboa, o cenário altera-se significativamente. Se na Cidade Invicta comprar é mais acessível do que arrendar, na capital a tendência inverte-se.
Apesar de nas duas modalidades os preços praticados ultrapassarem o rendimento mensal dos habitantes, comprar casa em Lisboa é 14% mais caro do que arrendar, deixando de ser a opção mais vantajosa.
Ainda assim, não se pense que arrendar na capital é um mar de rosas. Não o é, já que os preços estão a aumentar devido à elevada procura por um lado e à escassez de oferta por outro. O agravamento é então generalizado.
A taxa de esforço de arrendamento é de 59%, enquanto que a de compra é de 67%.
No último ano, esta taxa aumentou na compra de casa e manteve-se relativamente estável no arrendamento.
Conheça a história de Joana, uma jovem de Lisboa, com 25 anos,
que se candidatou ao programa Porta 65 Jovem.
"Cidade vivida e não vendida"
Por conta da dificuldade de acesso à habitação, o número de manifestações tem aumentado por todo o país. São milhares os jovens que saem às ruas a reivindicar melhores condições de vida e de habitação.
Manifestação “Casa para Viver” levou milhares de pessoas até ao centro de Lisboa. Jovens e adultos protestam pelo direito à habitação. Foto: Teresa Pacheco Miranda
Jovens queixam-se da falta de acesso à habitação digna durante os protestos em Lisboa. Foto: Teresa Pacheco Miranda
Protestos pelo direito à habitação na cidade de Lisboa. Foto: Ana Francisca Gonçalves
Manifestação “Casa para Viver” levou milhares de pessoas até ao centro de Lisboa. Jovens e adultos protestam pelo direito à habitação. Foto: Teresa Pacheco Miranda
Emigrar: a rampa de lançamento para a estabilidade?
Cada vez mais os jovens têm tendência a procurar melhores condições noutros países. A precariedade laboral, os salários baixos e as rendas elevadas são os principais fatores que levam a adiar a emancipação. Em reflexo disso, emigrar passou a ser o plano b dos portugueses.
Lázaro Moreira, jovem de 28 anos residente do Porto, é um dos rostos da emigração. É já no final deste ano que parte para a Noruega, país elegido para viver e construir uma família.
Numa breve pesquisa, Lázaro concluiu que a Noruega é um dos melhores países para viver. Uma das principais razões que aponta é a existência de um salário médio.
O jovem parte sem data de regresso. O seu objetivo é "fazer vida e, se possível, pedir dupla nacionalidade".
Se há quem ainda esteja em casa dos pais e já pense em emigrar, há também quem já tenha saído do domicílio familiar e pense no mesmo, ainda que por motivos diferentes. É o caso de Cláudia Costa, de 25 anos.
A jovem enfermeira pediu um crédito à habitação que foi revisto no mês de dezembro, à data da entrevista. No valor final, Cláudia e a companheira iriam ter de pagar mais 150 a 200€ pela renda mensal, a juntar aos 10% de entrada da casa de empréstimo a familiares. As duas jovens não conseguem assim manter a casa com os salários que recebem e por isso vão emigrar para a Bélgica.
A trabalhar na Santa Casa da Misericórdia de Paços de Ferreira, Cláudia recebe em média 750€, um ordenado que considerado "ridículo" para um enfermeiro em Portugal. Face às despesas que tem, a jovem sentiu a necessidade de colocar a vida social em segundo plano e optar por um supermercado mais económico.
Sair de Portugal para só regressar na idade da reforma parece a opção mais viável para muitos destes jovens.